Aprender a andar como iguais

Ao analisarmos a letra da canção “Upa neguinho” de Edu Lobo e Gianfrancesco Guarnieri, percebemos que seu tema é político. Mas temos que entender política como um fenômeno complexo, que não se restringe nem a leis nem a eleições. Trata-se de relações, de conflitos de forças dentro de uma sociedade.

Já na primeira estrofe percebemos que o eu lírico é um integrante das classes menos favorecidas que, por exaltar a imagem de uma criança pobre aprendendo a andar, contraria o discurso social dominante, para o qual isso é muitas vezes digno de riso. Outro aspecto interessante da primeira estrofe é que nela se deixa explícito que desde pequeno o “neguinho” é socialmente oprimido, maltratado e subjugado.

Nas outras estrofes encontramos uma passagem significativa. O eu lírico afirma que, apesar de ter conhecido a desgraça, tem muito a ensinar para a criança, e ela, a criança, também terá, em breve, o que ensinar a ele, o eu lírico.

Por fim, deparamos, no último verso, uma sentença que sintetiza todo o conflito entre forças sociais exposto na canção. A expressão “liberdade só posso esperar” demonstra a esperança da classe oprimida, que deseja que um dia a dominação, a violência, a opressão acabe. E finalmente seremos iguais.

Felipe Kill